terça-feira, 30 de outubro de 2007

Valente Menina!

Rubem Braga

DEBRUÇADO cá em cima, no 13.° andar, fiquei olhando a porta do edifício à espera de que surgisse o seu vulto lá embaixo.
Eu a levara até o elevador, ao mesmo tempo aflito para que ela partisse e triste com a sua partida. Nossa conversa fora amarga. Quando lhe abri a porta do elevador esbocei um gesto de carinho na despedida, mas, como eu previra, ela resistiu. Pela abertura da porta vi sua cabeça de perfil, séria, descer, sumir.
Agora sentia necessidade de vê-la sair do edifício, mas o elevador deve ter parado no caminho, porque demorou um pouco a surgir seu vulto rápido. Desceu a escada fez uma pequena volta para evitar uma poça de água, caminhou até a esquina, atravessou a rua. Vi-a ainda um instante andando pela calçada da transversal, diante do café; e desapareceu, sem olhar para trás.
"Valente menina!" — foi o que murmurei ao acaso lembrando um verso antigo de Vinicius de Moraes; e no mesmo instante me lembrei também de uma frase ocasional de Pablo Neruda, num domingo em que fui visitá-lo em sua casa de Isla Negra, no Chile. "Que valientes son las chilenas!" dissera ele, apontando uma mulher de maiô que entrava no mar ali em frente, na manhã nublada; e explicara que estivera andando pela praia e apenas molhara os pés na espuma: a água estava gelada, de cortar."Valente menina!" Lá embaixo, na rua, era tocante seu pequeno vulto, reduzido pela projeção vertical. Iria com os olhos úmidos ou sentiria apenas a alma vazia?
"Valente menina!" Como a chilena que enfrentava o mar, em Isla Negra, ela também enfrentava sua solidão. E eu ficava com a minha, parado, burro, triste, vendo-a partir por minha culpa.
Deitei-me na rede, sentindo dor de cabeça e um certo desgosto por mim mesmo. Eu poderia ser pai dessa moça — e me pergunto o que sentiria, como pai, se soubesse de uma aventura sua, como essa, com um homem de minha idade. Tolice! Os pais nunca sabem nada, e quando sabem não compreendem; estão perto e longe demais para entender. Ele, esse pai de quem ela falava tanto, não acreditaria se a visse entrar pela primeira vez em minha casa, como entrou, com sua bolsa a tiracolo, o passo leve e o riso nervoso. "Como você pensava que eu fosse?" Lembro-me de que fiquei olhando, meio divertido, meio assustado, aquela mocetona loura e ágil que só falava me olhando nos olhos, e me fez as confissões mais íntimas e graves entremeadas de mentiras pueris — sempre me olhando nos olhos. Disse-me que a metade das coisas que me contara pelo telefone era pura invenção — e logo inventou outras. Senti que suas mentiras eram um jeito enviesado que ela tinha de se contar, um meio de dar um pouco de lógica às suas verdades confusas.
A ternura e o tremor de seu duro corpo juvenil, seu riso, a insolência alegre com que invadiu minha casa e minha vida, e suas previsíveis crises de pranto — tudo me perturbou um pouco, mas reagi. Terei sido grosseiro ou mesquinho, terei deixado sua pequena alma trêmula mais pobre e mais só?
Faço-me estas perguntas, e ao mesmo tempo me sinto ridículo em fazê-las. Essa moça tem a vida pela frente, e um dia se lembrará de nossa história como de uma anedota engraçada de sua própria vida, e talvez a conte a outro homem olhando-o nos olhos, passando a mão pelos seus cabelos, às vezes rindo — e talvez ele suspeite de que seja tudo mentira.
Texto extraído do livro “A Traição das Elegantes”.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

(...)


Odeio o domingo, porém não menos que a segunda-feira! O tempo é escasso demais e a correria toma conta da rotina. Coisas da vida...

sábado, 27 de outubro de 2007

Sabadão Musical


Final de semana chegou e nada melhor que uma musiquinha na vitrola, aquele filme que traz mil recordações e uma ótima companhia ao lado. O destaque do dia fica por conta da banda californiana Incubus, formada em meados de 1990, mistura com muita simpatia rock, eletrônico com hip hop e funk, conseguindo assim um som alternativo aliado a vídeos super bacanérrimos. Vale a pena conferir!

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Louco ou Revolucionário?


O economista dinamarquês Bjorn Lomborg é a principal referência científica do movimento que questiona as mudanças climáticas – a maior parte dele ligado ao lobby da indústria do petróleo. Desde que publicou o livro O Ambientalista Cético, em 2001, é citado por todos os que negam as evidências de que a Terra está esquentando por causa das atividades humanas. Ou pelos que afirmam que as mudanças podem ser benéficas. Em seu novo livro, Cool It, ele diz que o aquecimento também vai reduzir as mortes no inverno, inclusive em São Paulo.

Exagerado ou não, o livro de Bjorn Lomborg vai na contra-mão do senso comum imposto a ferro e a fogo e abre um espaço saudável para a discussão do que realmente é imaginário e o que é real na causa ambientalista e deveria ser recebido pela comunidade científica, em tese, não como uma “ameaça” ao meio ambiente pura simples e, sim, como algo a ser, no mínimo, investigado para – quem sabe? – se tornar mais uma contribuição para ampliar os horizontes da ciência e do desenvolvimento humano.


Bjorn Lomborg


QUEM ELE É?
Economista dinamarquês, foi eleito como uma das pessoas mais influentes do mundo pelas revistas Time e Business Week e pelo Fórum Econômico Mundial. É vegetariano e ativista gay

O QUE FAZ?
Pesquisador da Escola de Negócios de Copenhague, coordena o Consenso de Copenhague, projeto internacional para estabelecer prioridades globais

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Apresentações

Em um daqueles dias de inspiração, olho para as bonecas que decoram o meu quarto, mas eu odeio bonecas! Vou para o quintal onde sento na terra e brinco com os insetos, as borboletas me aterrorizam. O dia passa tão lento e eu brinco de pintar o céu com meu giz de cera. A hora do almoço é sempre complicada, pois minha comida vira meu brinquedo e eu tento formar frases com minha sopa de letrinhas (porque sempre falta justamente aquela letra que preciso?!), do outro lado da casa minha mãe me olha de cara feia, mas logo volta a conversar com minha avó. Volto para o quintal e um vento frio derruba as flores no chão, formando um grande tapete rosa onde rolo e camuflo num mimetismo quase que animal. Estou sozinha, mas isso não me importa. Só quero brincar e brincar...A noite cai e eu escuto minha mãe me chamar. De repente abro os olhos e vejo o céu azul entrecortado pela persiana e o sol com seus raios a me queimar, minha mãe está dizendo: Krika é hora de acordar!