quinta-feira, 29 de maio de 2008

Resta essa História


Caio Fernando Abreu

“Resta essa história que conto, você ainda está me ouvindo? Anotações soltas sobre a mesa, cinzeiros cheios, copos vazios e este guardanapo de papel onde anotei frases aparentemente sábias sobre o amor e Deus, com uma frase que tenho medo de decifrar e talvez, afinal, diga apenas qualquer coisa simples feito: nada disso existe.
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Nada, nada disso existe.
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Então quase vomito e choro e sangro quando penso assim. Mas respiro fundo esfrego as palmas das mãos, gero energia em mim. Para manter-me vivo, saio à procura de ilusões como o cheiro das ervas ou reflexos esverdeados de escamas pelo apartamento e, ao encontrá-los, mesmo apenas na mente, tornar-me então outra vez capaz de afirmar, como num vício inofensivo: tenho um dragão que mora comigo. E, desse jeito, começar uma nova história que, desta vez sim, seria totalmente verdadeira, mesmo sendo completamente mentira. Fico cansado do amor que sinto, e num enorme esforço que aos poucos se transforma numa espécie de modesta alegria, tarde da noite, sozinho neste apartamento no meio de uma cidade escassa de dragões, repito e repito este meu confuso aprendizado para a criança-eu-mesmo sentada aflita e com frio nos joelhos do sereno velho-eu-mesmo:
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- Dorme, só existe o sonho. Dorme, meu filho. Que seja doce.
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Não, isso também não é verdade.”

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Beatrice


Caio Fernando Abreu

"O que está lendo?" Ela perguntou da cama. Seus olhos azuis semicerrados. Tinha acabado de acordar. Afastou uma mecha dos cabelos negros que lhe caiam sobre o rosto. "O Inferno de Dante" Ele respondeu, depois de alguns minutos. O livro cobria-lhe parte do rosto. Estava sentado numa poltrona em frente a cama onde ela estava enrolada em lençóis muito brancos. Atrás dele, uma enorme janela mostrava o anúncio de um lindo dia. Ela se mexeu na cama, espreguiçando. "Você já leu esse livro" A voz dela era preguiçosa. Seu rosto calmo e feliz, diferente do que ele havia conhecido. "Eu sei, mas gosto muito dele. É o meu favorito, Beatrice" Ela piscou algumas vezes, confusa.
"Do que me chamou?"
"Beatrice" Ele baixou finalmente o livro, um sorriso dançando em seus lábios. O rosto dele formava covinhas na bochecha quando ele sorria. Ela também sorriu. "É uma personagem do meu livro. Combina com você" E voltou a ler o livro, os cantos dos olhos mostravam que ainda sorria.
"Beatrice" Ela repetiu baixinho.

domingo, 25 de maio de 2008

Não Precisa Mudar


Pontualmente ela chegou. Usava um vestido rodado e sapatos de boneca, no rosto uma maquiagem que aumentava sua idade em dez anos. Muita ornamentação, brincos que combinavam com as pulseiras, que combinavam com o vestido, que combinava com os sapatos. Estava visivelmente nervosa, suas mãos apertavam insistentemente os bolsos do vestido. Precisava impressioná-lo. No primeiro encontro, casualmente, trazia consigo apenas sua beleza natural, um sorriso de menina aliados ao charme de mulher. Isso o enlouquecia. Entretanto, ela estava insegura e precisava mais do que nunca mostrar que poderia ser mais bonita, muito mais atraente. Conforme os minutos passavam a angústia aumentava: Será que ele não vem? Olhava para os lados, conferia a aparência no espelho e apertava ainda mais os bolsos do vestido. Até que ele apareceu, distraído, em passos largos. Notou a presença daquela mulher, mas continuou andando firmemente até desaparecer no horizonte. Ele não reconheceu naquela mulher a menina de outrora.

sábado, 24 de maio de 2008

Ele era Chato


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O cara era muito chato. Tinha voz de chato, cara de chato, e toda aquela variedade de trejeitos que, individualmente, em pessoas diferentes, não têm nada demais, mas que reunidos em um único ser, de alguma forma tornam-no inequivocamente chato. Seu nome era Dagoberto. Até seu nome era chato.
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Acontece, entretanto, que a despeito de insuportavelmente chato, Dagoberto era generoso. E, como diria Nelson Rodrigues, dinheiro havia. De modo que Dagoba, como eu o chamava, não só não se importava em pagar chopes, conhaques e uísques - nessa ordem - durante toda a noite, como até se mostrava feliz com isso. E eu, é claro, aceitava e tratava de mostrar-me ainda mais feliz. Eu sei: não era uma bela atitude. Mas a vida é assim. Alguns têm escrúpulos; eu tenho sede.
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(...)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

MEME



* Um mês: Dezembro
* Um ano: O que virá
* Uma letra: M
* Uma estação: Primavera
* Uma flor: Rosa Amarela
* Uma fruta: Banana
* Uma matéria: Genética
* Um passatempo: Frets on Fire
* Um esporte: Judô
* Um herói: Jesus Cristo
* Um exemplo: Angelina Jolie
* Um filme: Inteligência Artificial
* Uma música: Umbrella (Rihanna)
* Um programa de TV: Novela
* Um time: Brasil
* Uma mania: Lavar as mãos
* Uma profissão: Médica
* Um sonho: Ser feliz
* Uma coisa importante: Saúde
* Uma sorte: Ser amada
* Um medo: O esquecimento
* Um amor: De mãe
* Um perfume: Sinônimo de alergia
* Adoro: Desenhos
* Odeio: O sofrimento
* Amigos: Poucos
* Um lugar: Meu quarto
* Um cheiro: Sabão em pó
* Um horário: De manhã
* Um sorvete: Flocos
* Um ciúme: Meu pc
* Uma cidade: Paris
* Uma dor: A saudade
* Uma saudade: Pessoas...
* Um hobby: Comprar
* Uma peça de roupa: Jeans
* É indispensável: Humanidade
* Um website: Meu blog
* Um defeito: Sinceridade
* Uma qualidade: Caridade
* Uma comida: Bem feita
* Um doce: Qq coisa sabor limão
* Uma lanchonete: A mais próxima
* Um restaurante: De qualidade
* Uma frase: "La vie qu'on a, qu'est-ce qu'on en fait?"
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Meme sugerida pela amiga Criss.

Seguir é Preciso


Charles Bukowski

“A dor é uma coisa estranha. Um gato que mata um pássaro, um acidente de automóvel, um incêndio… A dor chega, BANG, e eis que ela te atinge. É real. E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido. Como se te tornasses, de repente, num idiota. E não há cura para isso, a menos que encontres alguém que compreenda o que sentes e te saiba ajudar.”
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Infelizmente o relato do post abaixo é verdadeiro. As vezes, quando acordo a noite tenho a impressão que foi um pesadelo, mas logo percebo que não é. É preciso seguir adiante mesmo quando tudo parece tão difícil. Deus dará a força e compreensão necessária para esse momento.
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Obrigada a todos pelo carinho!
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PS: Os créditos sempre são devidamente postados logo abaixo da foto, sendo por este motivo colocado entre aspas os textos que não são meus.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Meu Relato Mais Triste



- Quando você vem?
- No meio do ano.
- Mas você é enrolado, acredito que nem venha.
- Claro que vou e já pode ir pensando no churrasco.
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Numa segunda-feira ele chegou, mostrava abatimento, mas era de se esperar, afinal após uma longa viagem o que ele queria era curtir tudo aquilo que o trabalho impedia. Estava tão sério, um acanhamento quase infantil, uma vergonha que a distância não deixava transparecer. Ao longo do dia a aproximação aconteceu naturalmente e estava acertado que sairíamos a noite. Com todos aqueles conselhos de mãe lá estávamos, num bar comemorando o dia que foi tão aguardado. Um convite de amigos resultou num banho de mar as 2h da manhã -quantas travessuras- chegamos em casa aos risos as 6h , mesmo com um olhar de reprovação dos nossos pais que se contagiaram com a nossa alegria. Naquele mesmo dia ele se foi com a promessa de que voltaria, e no fundo eu sabia que aquele dia tinha marcado sua vida.
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- Quando você volta?
- Não sei, antes de voltar para a Itália.
- Mas faltam poucos dias para isso.
- Eu sei, eu vou ...
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Duas semanas se passaram até que nesta noite uma ligação as 4h da amanhã trazia uma notícia triste e que me acordou ao ouvir o nome dele. Meus pais disseram: ‘ele se foi, mas dessa vez não vai voltar’. Como não voltaria? Era um menino de apenas 21 anos que trazia no peito o sonho de voltar a morar em seu país e levar uma vida normal de qualquer menino de sua idade. Meu chão se abriu naquele momento, tentava em vão juntar pedacinho por pedacinho os cacos do meu coração. A única certeza que tenho nesse momento é que a dor da morte será muito menor que a dor da saudade de saber que só as lembranças restaram.
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Vamos nos encontrar e quando isso acontecer será para sempre.

sábado, 17 de maio de 2008

Do Amor


Anais Nin

“Por um momento, ela viu seus anseios de amor parecidos àqueles de um viciado em drogas, dos alcoólatras, dos jogadores. O mesmo impulso irresistível, a mesma tensão, a mesma compulsão e, depois, a depressão seguindo-se à submissão ao impulso, o recuo. A amargura, a depressão e a compulsão mais uma vez...”
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Uma espiã na casa do amor - Pg. 43
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Presentinho da amiga Criss. Obrigada pelo carinho! ;)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Qual é a sua Mania?




"Mania é coisa que a gente tem mais não sabe porquê. Mania de bem querer, às vezes de falar mal. Mania de não dormir sem antes ler um jornal, de só entrar no chuveiro cantando a mesma canção, de só pedir um cinzeiro depois das cinzas no chão. Eu tenho várias manias delas não faço segredo, quem pode ver tinta fresca sem logo passar o dedo, de contar sempre aumentado tudo o que disse, o que fez, de guardar fósforo usado dentro da caixa outra vez. Mania é coisa que a gente tem mas não sabe porquê..."

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Pois é gente, vale aquele velho ditado "cada um com a sua mania" e pensando nisso resolvi fazer uma interatividade: Qual é a sua mania? Conte-me aquela sua mania que já virou marca registrada, que por vezes te faz rir, outrora te irrita um bocado. Vou começar a brincadeira.
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* Tenho mania de acordar para ver as horas;
* Mania de cheirar tudo que é novo;
* Mania de colecionar tudo que vejo.
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-> Agora é a sua vez! ;)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Eu Quero


Adélia Prado

"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."

sábado, 10 de maio de 2008

Mãe sem Filha


A conjugação do verbo matar está cada vez mais presente e utilizada em nossa sociedade. Eu mato, tu matas, ele mata e por aí vai a carnificina que movimenta essa grande máquina que é a ambição humana. Morte é morte, não interessa a forma como ela é executada, claro que, quanto mais hediondo o crime, maior a comoção que ele gera. O fato é: onde está o valor de cada vida que é tirada brutalmente? Nem sempre as vítimas têm rosto, às vezes, nem nome e isso cai em meio ao vão. O valor de uma vida estará sempre em cada recordação guardada por quem fica, pois isso a morte não é capaz de tirar.
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Enfim, quando me ajoelho a noite é para pedir que eu possa ir e vir tranquilamente, para que os governantes do meu país não me peçam mais uma vez para relaxar e gozar, ao invés de reformular as leis vigentes, uma vez que, estas não evoluíram ao ponto de adaptar-se aos crimes que hoje são praticados. Peço também para que a banalização não faça parte mais do meu vocabulário, pois não quero ao final de uma noite abrir a porta, receber minha encomenda e engolir a seco a fatia dessa pizza que me resta degustar.
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Em referência ao texto "Menina quase morta, sozinha" de Lia Luft, publicado na revista Veja em 30 de Abril de 2008, relatando o ponto de vista crítico sobre a morte da menina Isabella.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Voltando à Melissa


- Fugimos juntos para Paris.
- Vocês se amavam?
- Só a noite.
Ele não não me entendia, mas entendia meu corpo. E eu entendia o dele. Durante o dia, eu o desprezava. Mas não vivia sem ele. Ele me traía... e me humilhava... mas com um só beijo... eu perdoava tudo. Certa noite ele não voltou. Tinha fugido com outra. Sem me dizer nada. Mas tinha esquecido sua arma. Pensei: " Será que me mato? Ou a ele?" Estava em frente ao espelho, e começei a pentear o cabelo assim... uma escovada... após outra...e a outra. Meus cachos desmancharam.
- Quantas vezes já escovamos?
- Trinta e quatro.
- Por que temos que chegar às 100 ?
- Porque, na centésima escovada, meu cabelo estava liso de novo. Eu me olhei no espelho. Ele não me influenciava mais. Eu era outra pessoa.

*-*

Pausa para um café. Aceita?

domingo, 4 de maio de 2008

Uma Coisa é Certa



Quanto mais perto de Deus estamos, mais perto do mal ficamos. É como uma força de atração com uma simples equação: eu quero ser boa + a tentação = confusão na certa. Ontem fui num louvor em que o pastor disse a frase acima, nada demais se não fosse diretamente para mim. É incrível como vejo, ouço e sinto as vibrações negativas, mesmo assim sigo no caminho que acredito ser o melhor para a minha vida. Não sou corrompida por falsas promessas, falsas versões, falsos moralismos. Só peço a Deus para continuar me protegendo e para todos que gostam de mim: ORAÇÃO.

Amém.