terça-feira, 30 de março de 2010

Desnecessários

Coisas que não entram na minha cabeça ...
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_ " sem ofensa, mas...". Mas o que? Fica claro que logo a seguir a bordoada será pesada. Tente "com ofensa" da próxima vez.
_ " Sr, posso dar o troco em balas?" Agora vai você inventar carregar balas no bolso para pagar suas contas. Ou será preso ou encaminhado para um hospício.
_ " você é maravilhosa, mas não quero compromisso sério." Uma semana mais tarde você descobre que o canalha está namorando com direito a juras de amor no orkut. Ou o cara é muito indeciso ou tirou você para ser a trouxa da vez.
_ " você é sol, é raio, estrela e luar ..." Pra quê isso gente? Se a preguiça não deixa você criar, tente ao menos citar algo interessante. Ao invés de calcinha, você pode ganhar um fora.
_ " vai estudar pra ser alguém na vida e ganhar muito dinheiro, menina!" Pôxa mãe, na verdade pensei em ser artista ou entrar para política. Por que não posso escolher o caminho mais fácil?
_ " se apresentar algum problema no produto, você poderá trocar em até 3 dias." Em casa descubro que o produto depois de aberto perde a garantia. Mas como eu ía advinhar se não abrir? Preciso de um vale tarô, búzios ou bola de cristal.
_ " a grama do vizinho é sempre mais verde." Mas a comida da minha mãe é mais gostosa, nada se compara com a nossa cama e não há lugar como nosso lar. Talvez uma vírgula cai bem na frase.
_ " se eu soubesse não teria feito." Verdade? Conselhos estão aí pra isso e se você tivesse o dom de advinhar seria vidente.
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Sinceramente não dá!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Embarco

Caio Fernando Abreu
"Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono histórias, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar".

quarta-feira, 24 de março de 2010

O dia seguinte

Luiz Fernando Veríssimo

Aconteceu que Renato e Roberta abriram os olhos ao mesmo tempo. Era meio dia. Algum ruído da rua deve ter acordado os dois, não sei. Suas caras a centímentros uma da outra, frente a frente. Agora, primeiro de janeiro.
Os dois estavam nus, na mesma cama, sob o mesmo lençol, e nenhum dos dois sabia como tinha chegado ali e quem era o outro. Ficaram se olhando por um bom minuto e meio, piscando. [...]
Tentaram fazer uma reconstituição da noite. Tinha ido a réveillons diferentes. Nenhuma identidade tribal explicava estarem ali, nus, na mesma cama. Nada. Nem seita, nem passatempo, nem preferência musicais ou literárias.
Os dois saíram do apartamento, hesitaram - se beijavam na face ou não? - e depois foi cada um para o seu lado.

Fonte: Comédias Brasileiras de Verão

Você teve a impressão que esse texto poderia ter terminado diferente? Pois é, eu tive.