quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Quem é do Amor


(Sérgio Sampaio)

Quem é do amor não engana
ama mesmo as duras penas
por isso não são pequenas
as doces vezes do amor.
Quem é do amor é mais quente
viaja contra a corrente
tem sangue de aguardente
nas doces veias do amor
.
Quem é do amor tem o nome
de raoni da floresta
ruschi do espirito santo
da medicina da selva.
Quem é do amor é mais simples
tem uma cara de nuvem
e não permite que sujem
o verde da sua relva
.
Quem é do amor somos nós
consolo dos idiotas
chave de se abrir as portas
dupla que se satisfaz
que amor assim é pros vivos
pros rituais pros sentidos
não é para ser escrito
não é para os livros que se faz.
.
zzzZZZzZzzZzzzzzZZzZzzzzzzZzzzzzzzZz

domingo, 27 de janeiro de 2008

Márcia


(Nelson Gonçalves)

A poesia é tão pouco,
Quase não dá pra falar,
E o teu olhar brilha tanto,
Que eu não sei se canto,
Ou se paro pra olhar.
Márcia,
Teus olhos guardam segredos,
Sonhos, brinquedos, luar,
Voltas, partidas, degredos,
E todos os medos,
De ser e se dar.

Deixa eu tomar a tua mão,
E te levar comigo,
Deixa eu ser teu castigo,
Veste a pele, assume a tua nudez,
Vem pro mundo como deus te fez,
Vem seguir o rumo que eu seguir,
Dormir na cama que eu dormir...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A Última Crônica

(Rubem Braga)

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.
Ilustração: Samuel Casal

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Triste!

(Heath Ledger 1979-2008)
Nem tenho vontade de fazer qualquer comentário... :'(

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Rita

(Chico Buarque)


A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela
Meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
E Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato, seu trapo, seu prato
Que papel!
Uma imagem de são Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo
Um violão

domingo, 20 de janeiro de 2008

Mar..


Acredito naquela velha frase: "uma imagem vale mais que mil palavras", pois é assim que quero começar a semana lembrando do beijo que não foi roubado, da palavra que não foi dita e dos olhares que insistemente teimam em se cruzar. Bom, quanto ao plano de fundo dessa história não preciso comentar, uma vez que, está aí a foto que por si só já diz tudo!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Esperança

Mario Quintana


Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E—
ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Porque!

Porque a felicidade depende de mim e não dos outros!!!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Por que?



Por que quando fecho os olhos só vejo você?

Por que aquela música me faz tremer?

Por que a vontade me faz querer?

Por que meu mundo é só você?

Por que?

Por?

Que?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Borboletas no Estômago

Pablo Neruda

"Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

2008!!!



Palavra de ordem para este ano: VIVER!