quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Tu Verias a Moça

"E a moça? De que lugar teria vindo? Que caminhos teria pisado? Que insuspeitadas descobertas teria feito? Tu olharias a moça mas, as perguntas não acorrendo, o mistério que a envolveria seria desfeito - uma moça vestida de azul, sentada no chão de uma praça sem lago. Não poderias saber nada de mais absoluto sobre ela, a não ser ela própria. Fazendo perguntas, tu ouvirias respostas. Nas respostas ela poderia mentir, dissimular, e a realidade que estava sendo, a realidade que agora era, seria quebrada. E pois, não fazendo perguntas, tu aceitarias a moça completamente. Desconhecida, ela seria mais completa que todo um inventário sobre o seu passado. Descobririas que as coisas e as pessoas só o são em totalidade quando não existem perguntas, ou quando essas perguntas não são feitas. Que a maneirar mais absoluta de aceitar alguém ou alguma coisa seria justamente não falar, não perguntar - mas ver. Em silêncio.

Tu verias a moça."

Caio Fernando Abreu

2 comentários:

A. Terada disse...

adoro os textos dele, são lindo nao são? "tu verias moça" qm sabe apenas um pouco de silêncio seja o necessario

beijo

Salve Jorge disse...

Eu não pergunto
Porque hoje eu sei que vida não é uma resposta
Tudo questão de aposta
E de se jogar junto...