O Pavão Invejoso

La Fontaine

À deusa Juno, o Pavão

foi se queixar, certa vez,

dizendo que quem o fez

não o fez com perfeição.

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- Tenho uma voz horrorosa.

Tanto assim que, quando canto,

todos os bichos, de espanto,

se escafedem em polvorosa.

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Queixou-se a bonita ave:

- Causa inveja, ao pôr-do-sol,

ouvir o canto suave

e doce do rouxinol.

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Por que, Juno, não me deste

uma voz tão linda igual?

Rogo que me livres deste

canto, que é um berro, afinal!

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- Deixa de ser invejoso,

Pavão – a deusa falou.

És o bicho mais formoso

que a Natureza criou.

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És uma ave elegante,

de plumagem delicada.

Tua calda é deslumbrante,

de ricas gemas ornada.

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Foi bem sábia a Natureza

não dando tudo a só um.

Se o Rato não tem beleza,

tem tino como nenhum.

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Ao Macaco deu destreza,

musculatura ao Leão;

deu à Raposa esperteza,

deu à Coruja atenção.

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E nenhum deles se queixa,

conformados com o que são.

Não estás contente? Pois deixa,

Vou te dar uma lição!

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Queres ter voz maravilhosa?

Pois essa voz te darei.

Mas retiro a esplendorosa

cauda com que te enfeitei.

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E então o Pavão, aflito,

achando a troca ruim,

falou: - Até que meu grito

não é lá tão feio assim.

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Moral da História: É do nosso instinto invejarmos sempre o que os outros possuem, mas sem querer largar o que é nosso.

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"Aos olhos da inveja todo o sucesso é crime."

Provérbio Português