sexta-feira, 14 de março de 2008

Insone


Ela estava deitada na cama com o cobertor na altura do peito. Apertava-o com tanta força que os nós dos dedos estavam quase brancos. Era muito tarde. O silêncio era total. Só se ouvia o vento esfregando os galhos da árvore grande do quintal em sua janela. Depois, nem isso. A falta de ruído a assustava ainda mais. Trazia-lhe insegurança. Era como uma conspiração. Ouviu um murmúrio embaixo da cama. Puxou mais o cobertor. Pensou em chamar pela sua mãe, mas o grito parou na garganta quando se lembrou da última vez que a chamara. Ela veio correndo, acendeu a luz e não havia nada no quarto, embaixo da cama ou na janela. Ela se sentiu ridícula.
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Hoje, no entanto, era diferente. Havia algo no quarto. Não embaixo da cama. Nem na janela. Mas no quarto. Ora, que bobagem, na verdade existiam muitas coisas no quarto, claro. Ela tentou acalmar-se procurando identificar as sombras. A boneca velha, a vitrola, os livros da cabeceira, a roupa pendurada na cadeira. Enquanto percorria os olhos pelo quarto respirava devagar. Pensou em cantarolar uma música. Mas, não, seria ridículo. Já era quase uma mocinha. O vento realmente parara. O barulho embaixo da cama recomeçou. Um ruído leve. Quase imperceptível. Se não estivesse tanto silêncio. Procurou descansar de verdade. Esquecer tudo isso. Não havia ninguém no quarto e pronto. Não havia nada embaixo da cama. Como sempre.
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Ela sorriu e fez uma brincadeira tantas vezes repetida: fecharia os olhos, quando os abrisse, haveria apenas seu quarto, nada mais. Nenhum barulho estranho. Apenas o seu quarto. Fechou os olhos sorrindo. Sentados na cama e espalhados pelo quarto estavam todos eles. Esperando pelo momento em que ela abrisse seus olhos.

9 comentários:

Anônimo disse...

Vc me surpreende!!
Será q vc naum deveria levar isso mais a serio???

Pensa na ideia..
Vc é mt boa nisso!

Sérgio Figueiredo disse...

Amiga,

Ás vezes somos apanhados por sonhos. Sonhos que nos fazem entrar em pânico. Bom...mas vamos pensar que desta vez ela não estava a dormir e portanto não era um sonho. Aí, algo a perturbou, ou efectivamente houve um ruído e ela se assustou ou...então talvez ela estivesse com um estado físico tal, que o medo se apoderou dela e lhe criou um distúrbio de insegurança face ao silêncio. Quanto mais pensava mais o medo se apoderava e ela continuava numa situação de não conseguir dormir.

É um conto bonito que acaba por não se saber o que se passou. Está muito bem e a foto é bem escolhida.

Bjs

Eu disse...

Gostei do texto :D
Gostei do blog.

Bjinho

Rui Caetano disse...

Um texto intenso. Os sonhos comandam o nosso ser e definem o nosso viver.

\ Linenha.♥ disse...

uhuuúuL. quee Liindooo Foofa !

Adoreei o post ;

Beeeiiiijôoooooos ♥

Anônimo disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Marcelo Leite disse...

hum
sou amigo da eula (pimentinhabm) e coloquei vc nos meus links
gosto mto d blog
e gostei do seu ok?
bjin bjin

Marcelo Leite disse...

Obrigado por me linkar! hihih
volto sempre sim
volte lá tbm *-*
amo Clarice Lispector
suas obras são fantasticas!
grande beijo e boa noite!

Eu disse...

Sobre o texto, já lhe disse que gostei :D
Sobre o seu comentário no meu blog, fico feliz por ter uma leitora bióloga, e acho que sim, que os animais cada vez mais precisam de pessoas que os ajudem, pois o Homem tem tendência a eliminar o mal começando por eles.

Volte sempre :)